Notas Explicativas

Canto VII

7.1 Otaviano era o imperador Augusto (63 a.C. a 14 d.C). Voltar

7.2 As três santas virtudes são a , a esperança e a caridade. As outras virtudes são as virtudes cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Voltar

7.3 A lei da montanha impede que uma alma penitente progrida durante as horas em que o Sol não ilumina a montanha. Seu significado é alegórico. A graça divina (a luz do Sol), deve estar sempre presente durante a penitência, caso contrário a alma só pode esperar, ou até regredir (descer), pois não terá luz que possa guiá-la. Como os penitentes desejam o Paraíso, não têm vontade de subir guiados pelas trevas pois podem estar rumando para o abismo. Comentaristas observam que a lei reflete as palavras de Cristo em João 12:35: "Então Jesus lhes disse: A luz ainda está convosco por um pouco. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem. Quem anda nas trevas não sabe para onde vai." [Longfellow 67] Voltar

7.4 O vale dos príncipes é o jardim onde ficam os líderes que foram atentos às suas obrigações políticas, mas negligentes com suas obrigações espirituais. Voltar

7.5 Salve Rainha: hino da igreja criado no século XI, que começa (em latim): Salve Regina, mater misericordiae, Vita, dulcedo et spes nostra, salve. [Longfellow 67] Voltar

7.6 Os preocupados formam o terceiro grupo dos que se arrependeram tarde. Os primeiros mudaram de idéia na hora da morte violenta. Os seguintes, deixaram para a última hora por preguiça. Estes também deixaram para se arrepender de seus pecados na última hora, porém não por causa de preguiça mas de suas preocupações com os problemas mundanos. Como sua preocupação era, antes de tudo, voltada às outras pessoas, essas almas ocupam o lugar mais alto e mais bonito do Ante-purgatório. Mesmo aqui, continuam a discutir os assuntos que lhes tomavam o tempo na Terra, enquanto esperam pela oportunidade de atravessar a porta de São Pedro. Voltar

7.7 Imperador Rodolfo (1218-1291): pimeiro imperador da Alemanha e que deu início à dinastia de Hapsburgo. Em 1273 foi nomeado rei do Sagrado Império Romano e imperador da Alemanha. Entrou em conflito com Ottokar II, o rei da Boêmia, que se negava a aceitar a autoridade de César assumida por Rodolfo. À força, Rodolfo tomou de Ottokar a Áustria, a Stíria, a Coríntia e outras possessões. Ottokar tornou-se seu maior inimigo, e passou a vida lhe enfrentando. [Pinheiro 60] Voltar

7.8 Ottokar II, rei da Boêmia (1253 a 1278). Era também soberano de vários principados da Alemanha como a Áustria, Coríntia, Camíola, Stítria e grande parte da Prússia. Por sua grande influência e poder, foi indicado para assumir o império da Alemanha, mas, por não concordar com o Império, rejeitou o convite. Rodolfo (nota 7.7), que acabou sendo escolhido imperador, quis que Ottokar se sujeitasse aos costumes do Império, incluindo a cerimônia de homenagem ao novo Imperador. Mas Ottokar não reconhecia a autoridade de Rodolfo. Este, então declarou guerra a Ottokar e tomou-lhe a maior parte dos estados. Ottokar foi morto na batalha de Laa em 1278. [Pinheiro 60] Voltar

7.9 O bom rei Wenceslau IV (1270-1305): filho de Ottokar II (nota 7.8). Por ser de menor quando seu pai faleceu, não pode assumir o trono, que foi ocupado pelo marquês de Brandenburgo. Cinco anos depois, em 1283, tornou-se soberano da Boêmia. Em 1300 foi eleito rei da Polônia e alguns anos depois foi-lhe oferecida a Hungria, que não aceitou, deixando-a para seu filho Wenceslau V. Wenceslau tinha fama de ser uma pessoa de índole pacata e mansa, e seu curto reinado foi marcado pela paz. [Pinheiro 60] Voltar

7.10 O gordo é Henrique de Navarre, irmão de Tebaldo (o bom) e pai de Joana, a esposa de Felipe IV, o belo (veja nota 7.12). Henrique foi rei de Navarre de 1270 a 1274. A causa de sua morte em 1274 teria sido "sufocamento pela própria gordura." [Musa 95] Voltar

7.11 O espírito de nariz achatado é Felipe III, o ousado (1245-1285), rei da França (1270-1285): filho de Luís IX e Margarida de Provença, pai de Felipe IV (veja nota 7.12). Casou-se com Isabel de Aragão (1262) e depois com Marie de Brabant (1274) (nota 6.6). Esta última esposa levou-o a condenar ao enforcamento seu cirurgião Pierre de la Brosse (nota 6.6) [Larousse 98]. Foi derrotado em batalha na tentativa de reconquistar a Sicília para seu tio, Carlos de Anjou (nota 7.16), e morreu pouco depois. Voltar

7.12 O Mal da França é Felipe IV (o belo) (1268-1314), filho de Felipe III (nota 7.12) com Isabel de Aragão, e genro de Henrique de Navarre (nota 7.11). Foi pai de três reis da França que o sucederam. Político extremamente hábil e de governo agressivo tendendo à tirania. O reino de Felipe foi marcado por diversos desendimentos com a Igreja Católica, que tiveram início em 1296 quando o papa Bonifácio VIII (nota) publicou um documento no qual declarava que as propriedades da Igreja seriam isentas de quaisquer obrigações seculares. Felipe contestou, argumentando que, se a Igreja não fosse pagar tributos à França, então a França também não iria pagar tributos à Igreja. Imediatamente, ele proibiu a remessa de dinheiro ou produtos franceses à Igreja. Solicitou também a criação de um conselho para analisar as denúncias de heresia e corrupção por parte de Bonifácio e chegou a prender o bispo de Palmiers, Bernard Saisset, sob a acusação de traição. Por causa disso, Bonifácio decidiu excomungar o rei. Um dia antes da publicação do documento de excomunhão na Catedral de Alagna, onde Bonifácio residia, os emissários de Felipe invadiram o palácio e mantiveram o papa em cárcere privado, saqueando sua residência e o agredindo fisicamente. Bonifácio foi salvo três dias depois pelos habitantes de Alagna, mas não resistiu e morreu em Roma um mês depois aos 86 anos [Sayers 55]. A eleição de Clemente V, que transferiu a sede do papado para Avignon, anulou a excomunhão decretada por Bonifácio e selou a vitória de Felipe. O rei também se destacou por sua perseguição aos judeus, lombardos (banqueiros italianos) e cavaleiros da Ordem do Templo, motivada pelo interesse nas suas riquezas [Encarta 97]. Em 1307, Felipe mandou interrogar sob tortura 138 templários. O papa Clemente V inicialmente protestou mas acabou não resistindo à pressao e suprimiu a ordem em 1312, entregando os templários ao rei, que foram condenados à fogueira. A perseguição só terminou com a execução do grande-mestre Jacques de Molay, queimado vivo em 18 de março de 1314, marcando o fim da Ordem do Templo. Filipe se apropriou de grande parte das riquezas dos templários da França mas acabou falecendo em outubro de 1314. Parte do espólio dos templários chegou a ser transferido para a Ordem de Cristo, fundada em Portugal em 1918 por Dom Dinis, que não acatou a decisão do papa. A Ordem de Cristo teve papel fundamental no financiamento dos descobrimentos marítimos empreendidos pela Coroa de Portugal. [Larousse 98] Voltar

7.13 O forte é Pedro III de Aragão (1236-1285), filho do espanhol Jaime I de Aragão e esposo de Constancia (nota 3.7), filha de Manfredo (nota 3.2). Pedro se tornou rei da Sicília em 1282, sucedendo a Carlos de Anjou que foi derrotado após o massacre das Vésperas Sicilianas (nota 7.15). Ele foi morto perto de Barcelona, em 1285, devido a ferimentos recebidos em batalha contra os franceses. [Musa 95] Voltar

7.14 Vésperas Sicilianas (1282): insurreição contra o palácio de Anjou planejada pela resistência siciliana, liderada por Pedro III de Aragão e pelo imperador bizantino Miguel VIII Paleólogo com provável financiamento pelo papa Nicolau III [Sayers 55]. A revolta começou na segunda-feira de Páscoa, na hora em que soavam as vésperas. Iniciou-se um sangrento massacre que fez milhares de vítimas entre os de franceses residentes na Sicília. A revolta só terminou quando Carlos de Anjou foi expulso do palácio, cedendo o trono a Pedro III de Aragão. [Larousse 98] Voltar

7.15 O narigudo é Carlos I de Anjou (1220-1285). Filho de Luís VIII da França, foi rei de Nápoles e da Sicília, conde de Anjou e de Provença. Simpatizante dos ideais guelfos, Carlos foi convidado a assumir o trono de Nápoles pelo papa Urbano IV. Incentivado pelo papa Clemente IV a tomar posse do reino, entrou em guerra com Manfredo (nota 3.2) em Benevento (1266), ganhou e se tornou rei da Sicília e da Apúlia. Os sicilianos ficaram revoltados com o governo francês e tentaram derrubá-lo sem sucesso em 1268 [Sayers 55]. Enquanto isso, Carlos tentava transformar a Sicília em um grande império mediterrâneo. Na Itália, conseguiu a soberania sobre a Toscana e os estados pontifícios. Depois tentou se apoderar do império bizantino, tomando Corfu, Durazzo e a costa de Épiro. Tornou-se rei de Jerusalém em 1277. Mas a resistência interna foi crescendo e, em 1282, um movimento que agia na clandestinidade conseguiu levar adiante uma insurreição levando às Vésperas Sicilianas (veja nota 7.14) que resultou em sua derrota e o fim do seu império marítimo [Larousse 98]. Carlos morreu ao tentar retomar o governo da Sicília dois anos depois. Voltar

7.16 O jovem provavelmente é Alfonso III, o filho mais velho de Pedro III de Aragão, e que reinou entre 1285-1291.[Musa 95] Voltar

7.17 Henrique III da Inglaterra (1216 - 1272): rei da Inglaterra e duque da Aquitânia. Foi um príncipe fraco, de pouca iniciativa que deixou-se influenciar por sua comitiva francesa e era submisso aos abusos de Roma. Derrotado por Luís IX em duas batalhas, perdeu a soberania sobre várias terras. A derrota revoltou os barões que iniciaram uma guerra civil, sob a liderança do barão Simão de Montfort, que capturou e prendeu o rei. Após a morte do barão, Henrique foi libertado pelo filho Eduardo conduzido de volta ao trono, que manteve até a sua morte. [Larousse 98] Nas obras de Sordello (nota 6.7), Henrique é freqüentemente repreendido por sua preguiça e covardia [Musa 95]. Voltar

7.18 Batalha de Benevento (1266): Com Florença tomada pelos guibelinos e o crescimento da influência do guibelino Manfredo em ascenção na Toscana, o papa Urbano IV pediu ajuda a Carlos de Anjou (nota 7.16), irmão do então rei da França, Luís IX, para que ele liderasse os guelfos, oferecendo-lhe o governo de Nápoles e incentivando-lhe a conquistar o resto da península. A batalha decisiva ocorreu em Benevento em 26 de fevereiro de 1266. A cavalaria dos Anjou, ajudada por traidores sicilianos, conseguiu derrotar o exército de Manfredo e tomar o poder poucos dias depois. Dois anos depois, Conradino tentou retomar o poder para os sicilianos mas não teve sucesso e foi decapitado em Nápoles, a nova capital da Itália austral. [HistoryNet] Voltar

7.19 Guilherme, o Marquês de Montferrat e da região de Canavês (1254-1292) era líder da resistência contra Carlos I de Anjou. Em 1290, foi traído pelos habitantes de Alexandria, uma das cidades que liderava, que o capturaram e o mantiveram em exposição numa jaula de ferro até a sua morte, depois de um ano e meio. [Sayers 55]. Voltar