Notas Explicativas

Canto XVII

17.1 O freio da ira: três visões mostram exemplos de ira contra parentes e amigos (Procne), contra os escolhidos de Deus (Haman) e provocada por adversários (Amata, mãe de Lavínia) [Sayers 55]. Voltar

17.2 Primeira visão: Após cinco anos de um feliz casamento com Tereu, o rei da Trácia, Procne pediu ao marido que fizessem uma visita à sua irmã, Filomena, e a trouxessem para a Trácia para uma visita. Quando Tereu conheceu Filomena, ele se imediatamente apaixonou por ela. De volta à Trácia, na primeira oportunidade, levou a cunhada para uma cabana oculta na selva, e a violentou. Depois, cortou a sua língua para que não pudesse falar, e a manteve trancada na cabana, guardada por um de seus soldados. Quando Procne perguntou por sua irmã, Tereu, triste, ele contou a triste história de como ela havia morrido acidentalmente. Um ano se passou e, sem esperanças de escapar, Filomena bordou um tecido com toda a sua triste história contada em linha vermelho. Depois, conseguiu que uma pessoa entregasse o tecido à rainha. Quando Procne recebeu o tecido, e leu a história, foi correndo atrás da irmã. Tendo-a encontrado, deixou que a ira tomasse conta do seu coração e tramou uma vingança terrível contra o marido. Com a ajuda de sua irmã, ela degolou o próprio filho, temperou sua carne e serviu ao marido no jantar. Quando Tereu pediu para ver seu filho Itys, Procne disse: "Ele já está aí contigo!" "Onde?", ele perguntou, e Filomena atirou a cabeça do pequeno Itys no prato do pai. Depois de superar o choque inicial, Tereu sacou sua espada e correu atrás das duas irmãs, e naquele momento, todos os três se transformaram em aves (Ovídio, Metamorfoses, VI). Voltar

17.3 Segunda visão: O homem enforcado e furioso é Haman, que recebeu do rei Assuero um cargo de honra. Todos os oficiais do rei se prostravam diante de Haman, menos o judeu Mordecai. Irritado, Haman mandou destruir todos os judeus e construiu uma forca para mandar enforcar Mordecai. O rei, porém, descobriu, através da rainha Ester, como Haman havia abusado do poder por causa de seu ódio pessoal a Mordecai, um homem que havia dado provas de sua fidelidade ao rei. Durante um banquete, preparado pela rainha, o rei condecorou Mordecai e mandou que Haman fosse enforcado na sua própria forca (Livro de Esther, 3-7). Voltar

17.4 Terceira visão: Quem fala é Lavínia, filha do rei Latino, que era noiva de Turnus. A rainha, Amata, temia que Turnus fosse derrotado e morto em combate por Enéas, e este ficasse com Lavínia como prêmio. Ela disse a Turnus: "Nunca verei Enéas como meu filho". Quando a rainha viu, das janelas do seu palácio, que o exército inimigo se aproximava, sem reação do exército de Turnus, deduziu (incorretamente) que ele havia sido morto e se enforcou. Lavínia encontrou a mãe morta e lamentou que o seu ódio por Enéas fosse tão grande a ponto de acabar com a própria vida. (Virgílio, Eneida, livro XII). Voltar

17.5 O anjo da Mansidão (oposto da ira): remove o P da ira da testa de Dante e profere a bênção "Bem-aventurados são os mansos" (Mateus 5:9) Voltar

17.6 17.6 No seu discurso sobre o amor, que o classifica como a origem de todo o bem e também de todo o mal, Virgílio descreve a geografia do purgatório, que é baseada nas raízes de todos os pecados. O amor natural é instintivo e livre de culpa mas o amor racional pode errar de três maneiras: 1) por escolher o mal em vez do bem (amor pervertido), e, tendo escolhido o bem, 2) por não amar suficientemente, ou 3) por amar demais bens secundários. Ninguém quer realmente mal a si próprio (os que suicidaram estão no inferno) nem a Deus (igualmente, os que morreram querendo mal a Deus não se arrependeram e, portanto, não estão aqui). O amor pervertido, portanto, sempre é praticado contra o próximo. Os três tipos são: orgulho, inveja e ira, punidos nas cornijas abaixo. Nas cornijas seguintes serão encontradas almas que praticaram o amor legítimo (escolheram o bem) mas pecaram ou por falta ou por excesso. Quem não amou suficientemente (a Deus ou às suas obrigações na Terra) pecou por preguiça, e está purgando seus pecados na cornija atual. O amor ao bem supremo (Deus) nunca é excessivo, mas se esse amor for direcionado aos bens secundários (outras pessoas, alimentos, dinheiro) sem moderação, o pecador terá que purgar o seu erro nas próximas três cornijas (pecados da avareza, gula e luxúria). Voltar