Notas explicativas

Canto XXX

30.1 Falsificadores (2): O Canto XXX fala de mais três tipos de falsários (além dos alquimistas, falsificadores de matéria, encontrados no Canto XXIX). Os falsificadores de pessoas são os impostores que assumem identidades falsas, se passando por outras pessoas. São punidos com a insanidade extrema e correm feito loucos pelo Malebolge mordendo e arrastando os outros condenados. Os falsificadores de palavras são os culpados de perjúrio, falsidade ideológica e falso testemunho. Fervem de febre tão intensa que os deixa imóveis. Os falsificadores de dinheiro se desfazem com uma hidropisia tão grave que os derrete totalmente. Sentem uma sede nunca saciada porém nos sonhos só vêem rios, fontes e muita água, o que os tortura ainda mais. Segundo Dorothy Sayers, a imagem de doentes pode representar a decadência da sociedade por causa da falsidade, com uma doença mortal e já em estado de necrose avançada. "Malebolge começou com a corrupção da igreja e do estado. Nesta última vala, o próprio dinheiro é corrompido, cada afirmação se tornou perjúrio, e cada identidade, uma mentira. Não sobrou meio de troca." [Sayers 49] Voltar

30.2 Gianni Schicchi pertencia à família Cavalcanti, de Florença. Era exímio em disfarces e na arte da imitação. Segundo Benvenuto, Buoso Donati (25.9) foi um ilustre nobre de Florença que, ao sentir que a hora de sua morte se aproximava, teve uma crise de consciência por ter enriquecido ilicitamente através de roubos, e decidiu deixar gordos legados para diversas pessoas que ele poderia ter prejudicado. Porém, o seu filho Simone, se sentindo prejudicado, contratou os serviços de Gianni para que este se passasse por seu pai, elaborando um novo testamento que desfazia o primeiro e declarando como único herdeiro o seu filho Simone Donati. No testamento, Gianni não se esqueceu dele próprio. Incluiu no testamento a seguinte cláusula: "para Gianni Schicchi de Cavalcanti eu deixo a minha égua". [Longfellow 67] Voltar

30.3 Mirra era filha do rei Ciniras. Apaixonada pelo próprio pai, tramou com sua ama uma forma de entrar nos seus aposentos à noite e passar por uma jovem aguardada pelo rei. No escuro, o rei não a reconheceu e manteve, sem saber, relações sexuais com a própria filha. Mirra voltou várias outras vezes até que, numa certa noite, o rei, desejando saber quem era aquela que tanto o amava, acendeu uma tocha e viu que era Mirra. Ele sacou a espada para matá-la mas ela fugiu. Arrependida, pediu perdão aos deuses e foi transformada em uma árvore: um pé de mirra. O seu filho, quando finalmente nasceu, se chamou Adonis. (Ovídio, Metamorfoses X: 298-518) Voltar

30.4 Mestre Adamo era um falsificador de moedas da Brescia que, instigado pelos condes Guido, Alessandro e Aguinolfo de Romena falsificou o florim de ouro de Florença, cunhando a moeda com 21 quilates em vez de 24 (três a menos, como diz no poema). [Longfellow 67] Voltar

30.5 Florim: A moeda de Florença (florim) tinha gravada em um dos lados, o padroeiro da cidade, João Batista, e do outro, um lírio. Voltar

30.6 A esposa de Potifar: José, filho de Israel, havia sido vendido como escravo por seus irmãos. Potifar, oficial do Faraó, comprou José que passou a servi-lo. Potifar em pouco tempo passou a confiar em José e o fez mordomo de sua mais alta confiança. A esposa de Potifar, porém, tentou seduzir José a ir para a cama com ela. José recusou. Ela não desistiu. Passou a insistir dia após dia. José sempre recusava. Um dia, ela encontrou-se a sós com ele, agarrou-lhe pela capa e tentou seduzi-lo à força. Ele fugiu, deixando a capa nas mãos dela. Ela então mentiu para seu marido dizendo que José havia tentado violentá-la, mostrando a capa como prova. Potifar, acreditando na palavra da mulher, expulsou José e mandou prendê-lo no cárcere (Gênese 39). Voltar

30.7 Sinon foi o grego que, deixando-se levar prisioneiro pelos troianos, os convenceu a levarem, para dentro das paredes da cidade, um grande cavalo de madeira deixado pelos gregos. O cavalo, disse, era um presente dos gregos para substituir a estátua de Palas (Palladium) roubada por Ulisses e Diomedes (26.2 e 26.3). O cavalo estava repleto de soldados que, à noite, saíram de seu esconderijo e tomaram Tróia. Voltar