Notas Explicativas

Canto IX

9.1 O sonho de Dante: Este é o primeiro dos três sonhos que Dante terá nas três noites que passará no purgatório. Ele sonha que está sendo levado para o alto da montanha por uma águia, que atravessa o fogo. A águia é na verdade Santa Luzia - uma das três mulheres que, no início da Comédia, se interessou pela salvação de Dante da selva escura. Na interpretação de Dorothy Sayers, a intervenção de Luzia é necessária porque, "depois que a alma decide seguir o caminho da penitência e purgação, ela passa a depender da graça divina. É um salto muito grande para ser realizado com seus poderes naturais, então, Luzia é enviada do céu para ajudar Dante" [Sayers 55]. Voltar

9.2 Ganimede era filho de Tros (fundador da cidade de Tróia), segundo a mitologia grega. O jovem príncipe, considerado o mais belo dos mortais, caçava no monte Ida quando foi raptado por Zeus, disfarçado de águia. Zeus o levou ao pico do monte Olimpo, onde recebeu a imortalidade e substituiu Hebe, a deusa da juventude, como copeiro dos deuses [Encarta 97]. Voltar

9.3 Os três degraus simbolizam as três partes da penitência. O primeiro degrau, que é branco e no qual se vê o próprio reflexo, representa a confissão, o ato de reconhecer em si o pecado cometido. O segundo, escuro, áspero e rachado simboliza o arrependimento pelo ato pecaminoso ou contrição. O terceiro degrau, vermelho flamejante da cor do sangue de Cristo, representa a purificação através da absolvição da dívida do pecador. Voltar

9.4 O anjo guardião do purgatório é visto como representante da Igreja Católica. Seria o sacerdote (ou confessor) ideal, de acordo com D. Sayers. "Ele porta a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, e possui as chaves para o Reino de Deus, que foram dados a Pedro como a autoridade da Igreja para libertar ou não das amarras do pecado." [Sayers 55] Voltar

9.5 As sete feridas em forma de P (de pecatto) representam o reconhecimento de ter cometido os sete pecados capitais. As feridas devem ser saradas quando os pecados forem purgados em cada uma das sete cornijas do purgatório. Voltar

9.6 As chaves que abrem as portas do Reino de Deus representam as duas partes da absolvição, poder que pertence à Igreja Católica. A chave dourada representa a autoridade divina dada à Igreja para a remissão dos pecados. "É a mais cara porque foi comprada ao preço da paixão e morte de Deus" [Sayers 55]. É com ela que o sacerdote absolve os pecadores. A chave de prata representa o conhecimento necessário ao sacerdote para guiar o pecador no processo que o libertará das amarras do pecado. Ambas as chaves devem funcionar para que a porta seja aberta. Voltar

9.7 A ordem de não olhar para trás é provavelmente inspirada em Lucas 9:62 "Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus." (trad. João Ferreira de Almeida) Voltar

9.8 A vós louvamos ó Senhor (Te Deum Laudamus) é o início de um hino escrito por Santo Ambrósio na ocasião da conversão de Santo Agostinho e que a igreja canta por ação de graças [Pinheiro 60]. Segundo Dorothy Sayers, alguns comentaristas sugerem que o hino é cantado pelos espíritos no Purgatório, felizes por mais uma alma que se arrependeu dos seus pecados. Também cita Lucas 15:10, onde Jesus diz: "Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." [Sayers 55] Voltar