Notas ExplicativasCanto XVIII18.1 18.1 Virgílio continua seu discurso sobre o amor, agora descrevendo as suas origens. Ele descreve o amor natural, que é instintivo, e busca o que lhe dá prazer, independente de ser uma coisa boa ou má. Dante então pergunta a Virgílio como uma alma pode ser culpada se ela é atraída, por instinto, ao mal. Virgílio então explica que para isto existe o amor racional que, utilizando-se de uma virtude inata que todos os homens possuem, é capaz de distinguir o bem do mal e escolher o caminho certo. Ou seja, mesmo que o amor (bom ou mau) possa surgir em cada pessoa de forma natural e instintiva, cada um tem também o poder de controlá-lo. Isto é o livre-arbítrio. Voltar 18.2 A pena dos preguiçosos é correr sem parar, mantendo uma atividade incessante. O oposto do que realizaram em vida. A preguiça é caracterizada pela indiferença, que freqüentemente busca desculpas como "tolerância" ou "desilusão" para não tomar decisões, iniciativas, nem assumir compromissos. Seus opostos são o zelo, a ação, o esforço, a iniciativa e a persistência. A passagem por esta cornija é rápida pois as almas não têm tempo a perder. A oração da cornija aparenta ser "Depressa, depressa, que não se perca tempo por pouco amor!" mas como não tem origem bíblica ou litúrgica, a maior parte dos comentaristas considera que, diferentemente do padrão observado nas outras cornijas, não há oração nesta cornija. Voltar 18.3 O látego da preguiça (exemplos de zelo) são os gritos dos penitentes que lideram o grupo, que lembram de exemplos de ações opostas à preguiça. Os exemplos são Maria e César. Primeiro exemplo: "Maria correu apressada à montanha", gritam as almas, reproduzindo literalmente Lucas 1:39, que narra a visita de Maria a Isabel, depois da visita do anjo Gabriel. Segundo exemplo: O grito "César deixou Marselha e correu à Espanha" refere-se a um trecho da Farsália de Lucano. César, a caminho da Espanha, para enfrentar Pompeu, assediou Marselha e, deixando parte dos soldados para concluir a tomada, partiu com a outra parte para lutar contra Pompeu em Ilerda (Lerida). Voltar 18.4 Nada se sabe sobre o Abade de São Zeno, nem o seu nome. Alguns comentaristas especulam que se trate de possivelmente Gherardo II, morto em 1187 [Sayers 55]. Voltar 18.5 Frederico Barbarossa foi imperador entre 1152 e 1190. Em 1162, ele destruiu Milão, Brescia, Piacenza e Cremona e vivia em permanente atrito com o papa Alexandre III, que o excomungou [Musa 95]. Frederico acreditava que seu poder no Sagrado Império era absoluto e vinha diretamente de Deus. Por isso, não aceitava o papa como intermediário. Ele morreu afogado ao tentar atravessar a cavalo o rio Salef, na Armênia. [Longfellow 67] Voltar 18.6 O homem com o pé na cova é Alberto della Scala, senhor de Verona que morreu em 1301. Como o poema se passa em 1300, ele está com "um pé na cova". O filho de Alberto é Guiseppe, retardado mental, aleijado e bastardo, recebeu o posto de abade de San Zeno entre 1292 e 1313, através de Alberto. [Musa 95] Voltar 18.7 O freio da preguiça é anunciado pelas almas que correm atrás do grupo e lembram exemplos de preguiça. Primeiro exemplo: "Antes que o Jordão..." refere-se aos israelitas, libertos da escravidão no Egito por Moisés, que, depois de terem atravessado o mar vermelho, manifestaram sua insatisfação em ter seguido Moisés. Reclamaram que preferiam ter continuado como escravos no Egito a sofrer no deserto. Por desobediência à lei de Moisés, foram condenados a nunca verem com seus olhos a terra prometida, que só foi vista pela geração seguinte (Êxodo 14:11-12, Números 14:1-39 e Deuteronômio 1:26-36). Segundo exemplo: o filho de Anquise é Enéas, que deixou na Sicília seus companheiros que, acomodados, não quiseram lhe acompanhar até Latium e deixaram de participar da fundação de Roma (Virgílio, Eneida V). Voltar |