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Notas explicativas e símbolos

Canto II

2.1 Há um comentário interessante sobre a advertência de Dante aos navegantes que o seguem em pequenas embarcações em uma citação incluída na tradução de H. W. Longfellow (extraída da biografia “Life and Times of Dante” por Balbi, traduzida para o inglês por Mrs. Bunbury): “A última parte da Comédia (...) é considerada a parte mais obscura e difícil de todo o poema. (...) Leitores em geral sempre irão se afastar devido às dificuldades de suas numerosas alegorias, pela série de céus organizados de acordo com o hoje obsoleto sistema Ptolomaico, e acima de tudo pelas discussões filosóficas e teológicas que freqüentemente degeneram-se em meros temas escolásticos. (...) O Paraíso não deve ser uma leitura agradável para o leitor comum (...) Poucos serão os estudiosos de filosofia e teologia, e menos ainda aqueles que consideram essas duas ciências quase a mesma coisa (...)” [Longfellow] São estes últimos que Dante chama de “bravos” e que ele afirma que irão desfrutar a sua viagem pelo Paraíso.

2.2 As Ursas: são as constelações Ursa Maior e Ursa Menor. Essas constelações guiavam (e ainda guiam) os navegantes. A estrela polar – estrela mais famosa da constelação de Ursa Menor – indica o pólo norte celeste e quase não se move no céu durante o giro aparente da esfera celeste. Na época de Dante a estrela polar estava mais afastada do pólo que nos dias de hoje. O afastamento era de 4 graus e meio (cerca de 9 luas cheias). Hoje o afastamento é de menos de um grau (pouco mais de uma lua cheia).

2.3 Os argonautas: navegaram com Jasão para obter o velo de ouro do rei da Cólquida (Ovídio, Metarmorfoses VII). Uma das provas às quais Jasão foi submetido antes que pudesse por as mãos no velo foi conduzir um arado com dois touros selvagens de chifres de aço, pés de bronze e que soltavam fogo pelas narinas.

2.4 A primeira estrela: é a Lua – a pérola (margarita) eterna. Dante usa as palavras estrela e planeta para representar a mesma coisa. Dante e Beatriz penetram na Lua como se fossem fantasmas. A Lua não se altera quando eles penetram no seu interior.

2.5 Caim: filho de Adão que matou seu irmão Abel (Gênesis). Dante refere-se à Lua no Inferno, Canto XX:126: como Caim e os espinhos (Caino e le spine) baseado em uma tradição popular italiana que identifica o homem na Lua como sendo Caim carregando arbustos espinhosos para o fogo do seu sacrifício [Longfellow].

2.6... diferentes virtudes derivadas de vários princípios formais ...”. Beatriz está distinguindo entre princípio material que é o mesmo em todos os corpos, do princípio formal ou substância que constitui as diferentes espécies e virtudes dos corpos [Reynolds]. Este argumento de Beatriz se baseia na crença astrológica de que estrelas exercem influência sobre a Terra. Sendo assim, o brilho aparente de uma estrela não é devido apenas a sua intensidade (quantidade de luz), mas também devido à qualidade da luz emitida. De acordo com a ciência moderna, o brilho aparente de uma estrela (magnitude) depende da sua distância, tamanho e idade (que determina a sua composição e cor da luz emitida).

2.7 Raridade e densidade: As crenças de Dante foram expostas em suas obras [Longfellow]. Se a Lua fosse um disco e tivesse partes mais densas e outras mais raras, as partes raras seriam mais escuras pois teriam menos matéria e seriam semi-transparentes. Mas se isto fosse verdade, a Lua deixaria passar nessas partes raras a luz de estrelas que eventualmente ocultasse e, num eclipse solar, as partes raras deixariam passar a luz do Sol. Se as partes raras fossem superficiais e estivessem sobre camadas mais densas poderia haver uma ocultação completa durante um eclipse, mas então o reflexo da luz solar quando o Sol iluminasse a Lua ocorreria em profundidades diferentes. Mas isto não poderia ser a causa das manchas da Lua como Beatriz refuta através de um experimento de ótica.

2.8 Através da experiência dos espelhos Beatriz procura refutar fisicamente que a hipótese de que áreas mais distantes refletem menos luz que áreas mais próximas. A conclusão está correta. No espelho mais distante a luz terá o mesmo brilho real e aparente apesar de distribuído em uma área menor (o que diminuirá sua capacidade de iluminar a retina). Conclui-se, portanto, que as manchas têm outra causa. Se desejássemos conciliar o conhecimento científico moderno à explicação de Beatriz poderíamos dizer que as diferentes “virtudes” que causam as manchas são os diferentes minerais que cobrem a superfície da Lua e provocam variações na luz refletida (veja http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap020316.html).

2.9 O céu da divina paz é onde reside Deus. É o céu que não se move e que contém a nona esfera: o Primum Mobile (o primeiro céu móvel).

2.10 O céu seguinte é o a oitava esfera: o céu das estrelas fixas. Este é o primeiro céu onde há uma distribuição não uniforme da essência divina (qualidade) que afeta o brilho das estrelas.

2.11 Os outros céus são as esferas dos planetas que giram abaixo do céu das estrelas fixas. Cada esfera recebe a essência divina em graus decrescentes de qualidade de acordo com as suas necessidades. Nenhuma parte tem mais do que precisa e ao mesmo tempo tem tudo o que deseja. Dante faz uma analogia com o corpo humano: se a alma destina “virtudes” melhores a um órgão em detrimento de outro não é porque um órgão vale menos que outro mas que para que ambos funcionem da melhor maneira possível devem receber a “essência da vida” em quantidades e qualidades diferentes.

2.12É essa virtude, e não as densidades, que causam as diferenças de luz que nós vemos.” O brilho das estrelas é proporcional à alegria que irradia através delas.